Segundo Episódio
- A conturbada vida de um cactus?! Que porra de título é esse, moleque? - pergunta o gentil editor - Nem vou ler. A única coisa que um título desses inspira no leitor é sede!
- Eu posso fazer algumas modificações…
- Modif… Olha… esquece. Aliás, o que você ainda está fazendo aqui? Todo mundo já foi embora! Nem sei de onde você tirou esse cactus. O ultimo sumiu tem dois meses!
- Eu acho que o açougueiro vendeu como se fosse carne... - confidencia o rapaz - até porque vaca também não tem mais, e ninguém se lembra do gosto mesmo.
- Só falta agora o saloon fechar.
- Vai fechar...
- É o fim dos tempos!
- Eu acho que o açougueiro vendeu como se fosse carne... - confidencia o rapaz - até porque vaca também não tem mais, e ninguém se lembra do gosto mesmo.
- Só falta agora o saloon fechar.
- Vai fechar...
- É o fim dos tempos!
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- Vai embora, rapaz. Acho que vou organizar umas caixas por aqui, e fechar a barraca por hoje.
À beira da porta, entretanto, o rapaz ouve o editor chamar-lhe, com o copo de uísque descuidadamente dançando entre as pontas dos dedos.
- Você gosta mesmo disso tudo, não é? - o escritor apenas concorda com a cabeça, vacilante - Eu só posso publicar o que as pessoas querem ler. Você precisa entender… - mais um gole, e mais uma ideia vai direto do copo para o cérebro - Porque você não se arrisca mais e tenta alguma coisa com um pouco mais de ação? É disso que as pessoas gostam, cara! Uma coisa mais dinâmica, com mulheres, brigas, alguma comédia… Tá entendendo?
- Acho que sim…
E finalmente o uísque parece ter encontrado seu porta voz definitivamente.
- Se tu der uma melhorada nisso, quem sabe… não aparece, de repente… na próxima edição…
Com o fogo em seus olhos queimando intensamente mais uma vez, o jovem escritor mal podia acreditar no que acabara de ouvir. Suas esperanças pareciam mais vivas do que nunca, e o instigavam a correr pelas ruas mortas de dead town em busca de historias incríveis. Precisavam ter muita acao, bastante sangue, mistérios indecifráveis! Nada de cactus ou doninhas, agora a porra ficou séria!
Até o velho editor chefe parecia animado com a motivação inesgotável do jovem escritor, mas, pelo andar da carruagem, tinha que ser sincero consigo mesmo. O jornal refletia apenas a situação de toda a cidade. As instalações do folhetim passaram de geração para geração, de modo que não havia como perde-las, mesmo com tantas dividas. Mas, todo o resto eram ruínas. Na cidade já não haviam mais leitores... Talvez fosse a hora de lhe dar uma chance, antes que tudo acabasse de vez.
. . . . . .
A semana passou tão rápido quanto o pavio de uma banana de dinamite queima sob o sol escaldante de dead town. Não haviam repórteres para inventar, digo, noticiar mais nada, e a meteorologia já não era mais tão interessante depois do centésimo "dia ensolarado sem qualquer possibilidade de pancadas ou mesmo tapinhas de chuva".
O que ainda alimentava as poucas paginas do folhetim eram os quadrinhos e contos. O antigo escritor, entretanto, havia publicado certas historias em que sugeria que uma certa moça, com uma personalidade certamente muito parecida com a da mulher de um certo cartunista, tinha o habito de visitar certos escritores solteiros em suas casas a noite. A coisa piorou quando os quadrinhos começaram a contar a historia de uma outra moca com personalidade - tudo bem, eu quero dizer seios - muito parecidos com os da irma de certo escritor, onde ela, coincidentemente, também gostava de visitar artistas a noite.
Tudo parecia não passar de especulações ate que os dois marcaram um duelo em frente ao saloon, e puxaram o gatilho ao mesmo tempo, deixando o jornal com dois funcionários a menos. Sem ter o que publicar e sem sinal do jovem escritor que prometera voltar com a salvação do folhetim, Vargas não poderia fazer mais do que sentar a beira da janela, e esperar os dias passarem.
O que ainda alimentava as poucas paginas do folhetim eram os quadrinhos e contos. O antigo escritor, entretanto, havia publicado certas historias em que sugeria que uma certa moça, com uma personalidade certamente muito parecida com a da mulher de um certo cartunista, tinha o habito de visitar certos escritores solteiros em suas casas a noite. A coisa piorou quando os quadrinhos começaram a contar a historia de uma outra moca com personalidade - tudo bem, eu quero dizer seios - muito parecidos com os da irma de certo escritor, onde ela, coincidentemente, também gostava de visitar artistas a noite.
Tudo parecia não passar de especulações ate que os dois marcaram um duelo em frente ao saloon, e puxaram o gatilho ao mesmo tempo, deixando o jornal com dois funcionários a menos. Sem ter o que publicar e sem sinal do jovem escritor que prometera voltar com a salvação do folhetim, Vargas não poderia fazer mais do que sentar a beira da janela, e esperar os dias passarem.
E os dias passaram. Passaram-se os meses, e também alguns poucos anos. Com uma caixa debaixo do braço, reunindo os poucos pertences que ainda lhe restavam, Monty Vargas fechava o trinco de seu escritório e se dirigia a saída da redação, para o derradeiro adeus, quando, subitamente, a porta se arrebenta contra as paredes, como se tivesse sido atingida por, quem diria, um furacão.
- Mas que diabos, homem! - vocifera Vargas.
Pela porta, entrou um rapaz de cabelos longos e desgrenhados. Os dentes podres sorriam o sorriso da vitória, emoldurados por uma barba enorme, horrível, e os óculos escuros não eram suficientes para esconder o fogo em seus olhos. Com a mão esquerda de madeira, sem semelhança assustadoramente alguma com uma mão de verdade, o rapaz misterioso traz um calhamaço enorme de papel, e o atira contra o perplexo editor.
- Consegui, senhor! Ai esta a melhor historia que qualquer jornal poderia publicar no mundo inteiro!
- Mas, o que houve com sua mão? E esse negocio ai cobrindo seus olhos? Sem falar nesse peixe enfiado no seu ouvido!
- É uma longa historia… não perca mais tempo!
Chocado, e ainda sem ter certeza se reconheceu naquele ser humano ultrajante o jovem que havia deixado a redação anos atrás, o velho Vargas atira a caixa com seus objetos no chão, e corre de volta ao escritório. La ele senta, absolutamente ansioso, com a ultima garrafa de uísque que lhe restou em uma das mãos, e, na outra, bem, o inacreditável relato que justificaria com honras e glorias uma longa ausência. E esse relato, meus amigos, é o que segue publicado aqui, fielmente, intitulado: "Aventuras Vernianas em uma Era Pré-Cientifica"
Aproveitem...
*todos os personagens, cenarios e situacoes aqui apresentados sao de autoria da mente doentia mas criativa de Henrique Zanchi. Gentileza nao reproduzir, utilizar, copiar, editar, apresentar, ou usufruir de qualquer maneira com fins comerciais sem a autorizacao expressa do autor.
*todos os personagens, cenarios e situacoes aqui apresentados sao de autoria da mente doentia mas criativa de Henrique Zanchi. Gentileza nao reproduzir, utilizar, copiar, editar, apresentar, ou usufruir de qualquer maneira com fins comerciais sem a autorizacao expressa do autor.